O ministro decano do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra da Silva Martins Filho, participou de um evento no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) nesta sexta-feira, 11, onde lançou a 30ª edição de sua obra Manual de Direito e Processo do Trabalho. Recepcionado pelo presidente Ramalho da Construção e pelo diretor Atevaldo Leitão, o jurista discorreu sobre a influência da visão cristã nas relações trabalhistas e na atuação do Judiciário, com a presença de representantes sindicais, empresários e trabalhadores.
Ives Gandra iniciou sua exposição questionando: “Como podemos analisar as relações entre empregadores e trabalhadores pela perspectiva cristã? O Brasil, desde suas origens, carrega essa tradição”. Ele destacou a importância de reconhecer a dignidade humana no ambiente laboral: “Cada um de vocês é essencial, pois é uma pessoa humana. Essa é a essência do Direito do Trabalho”.
Inspirado nos ensinamentos de São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, o ministro enfatizou os três pilares da santificação do trabalho: santificar o trabalho, santificar-se no trabalho e santificar com o trabalho. Esses princípios promovem a excelência técnica aliada à ética, buscando a realização plena do ser humano e a melhoria das relações sociais. “O trabalho perfeito é aquele em que colocamos todo o nosso empenho para realizar uma obra prima daquilo que estamos fazendo. Isso será praticado na hora de passar a linha, colocar cada bloco, dar aquela raspadinha, fazer com capricho. Cada vez que você capricha, você será um trabalhador com mais habilidade e conhecimento”, disse o ministro, reforçando que o trabalhador deve se interessar pela plenitude: “Quero saber as melhores técnicas para deixar melhor, quero aprender a perspectiva para acompanhar a obra como um todo”.
Segundo Ives Gandra, após a queda do Muro de Berlim, o modelo socialista fracassou, e a natural relação entre trabalhador e empregador deve ser pautada pelo consenso, não pelo antagonismo. “Os principais problemas empresariais são de relacionamento, relacionamento de chefe com subordinado, relacionamento entre os colegas. Se fosse técnico, era só estudar e estaria resolvido. Se tivermos um ambiente aprazível, nós fazemos bons colegas, bons amigos em nosso trabalho. Um chefe que cuida de todos faz com que queremos voltar para o trabalho. Quando a gente sente esse ambiente, é esse local que queremos trabalhar”.
Durante sua fala, ele reforçou que a aplicação desses valores não se limita ao ambiente religioso, mas pode ser integrada ao cotidiano profissional e jurídico. Para o ministro, o Judiciário também deve buscar um equilíbrio entre justiça técnica e ética moral, contribuindo para uma sociedade mais justa e solidária. “A minha missão é promover a justiça social”, finalizou o decano.
Sobre Ives Gandra
Além de sua atuação como ministro do TST desde 1999, Ives Gandra Martins Filho é professor universitário e autor de diversas obras sobre Direito e Filosofia. Ele já ocupou cargos importantes na Justiça do Trabalho, como presidente do TST (2016-2018) e corregedor-geral (2013-2014). Sua trajetória é marcada por uma visão reformista no campo trabalhista, defendendo maior flexibilidade nas relações entre empregadores e empregados para promover o equilíbrio socioeconômico.
O evento no Sintracon-SP reforçou a relevância de sua abordagem humanista no Direito do Trabalho e destacou como suas ideias podem inspirar mudanças positivas tanto no Judiciário quanto nas práticas laborais.