O 1º Fórum de Saúde Mental do ABCDMRR, realizado em 25 de junho e organizado pela ACAESP (Associação Cultural Artística e Esportiva do Estado de São Paulo), reuniu na sede da OAB 62ª Subseção de Diadema um time multidisciplinar de especialistas para debater saúde mental, inclusão e o papel transformador da arte contemporânea. O evento contou com a participação de nomes como Sônia Fares (arte-educadora), Neivaldo Costa (presidente da ACAESP), Renato Figueiredo (presidente da OAB Diadema), Luis Sousa (empresário e engenheiro de Segurança do Trabalho), Dra. Renata Cruppi (delegada de Polícia de São Paulo), Dr. Guilherme Marques (médico), Jailton Farias (sociólogo) e representante do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), Denise Miyamoto de Oliveira, Terapeuta ocupacional, Sanitarista e Suicidologista. Coordenação da Atenção Básica de Diadema, Mobilizadora do Projeto M/S. Colaborado a Prefeitura Municipal de Diadema e o vereador Orlando Vitoriano.
Durante o fórum, dados preocupantes sobre a saúde mental dos profissionais do Direito foram apresentados por Renato Figueiredo. “Esses dados que foram coletados foram coletados inclusive, em parte dos estudos, que eu participei ativamente. 19% da advocacia brasileira sofre de algum tipo de transtorno mental. 63% dos operadores do direito reclamaram ou se referiram a cansaços extremos, externos. 29% dos operadores do direito, todo este cenário, leva ao que o professor Luis Sousa trouxe, ao que a doutora Renata Cruppi trouxe: o suicídio. Você não faz ou não trabalha corretamente”, alertou Figueiredo, que ainda reforçou: “Cada vez mais precisamos incentivar o estudo, incentivar a conscientização, que não é diferente com o trabalhador celetista”.
Segundo Jailton Farias (sociólogo) e representante do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), tem um número grande de professores afastados e a maioria das licenças negadas e estudantes com problemas de doença mental. “São mais de 8 mil professores afastados por saúde mental em 2024, 13% do total é da rede estadual de São Paulo. Mais de 100 professores afastados por dia por problemas de saúde mental. Os números de afastamento por transtornos mentais e comportamentais tem um aumento significativamente; representando mais de 37% do total de licenças”.
O vereador Orlando Vitoriano trouxe à tona a realidade do setor público, destacando o alto índice de afastamentos por questões de saúde mental devido ao ambiente de trabalho. “No ambiente público, onde a gente vê chefes, comissionados ou não, nomeados ou não, de carreira ou não, que exercem muitas vezes uma função ‘dura’, vemos uma quantidade muito grande de profissionais se afastando, sendo afastados por conta de saúde mental em razão do ambiente de trabalho muito duro”, relatou. O parlamentar anunciou que pretende acionar seus pares para criação de uma Comissão de Saúde Mental. “Eu vou propor a criação de uma Comissão Especial de Saúde Mental na Câmara Municipal de Diadema. É importante destacar a importância do diálogo, da mediação e da atuação dos profissionais de saúde mental, reconhecendo as dificuldades enfrentadas tanto pelos usuários quanto pelos próprios profissionais do setor público”.
No ambiente corporativo, Luis Sousa, engenheiro de segurança do trabalho da CIOMED, alertou para o impacto direto de transtornos como ansiedade e síndrome do pânico na produtividade das empresas. “Só para se ter uma ideia, tem casos de funcionários que, por questões emocionais, acabam se escondendo ou evitando contato com clientes, o que impacta o ambiente corporativo”, revelou. Ele defendeu que uma engenharia de segurança estruturada pode identificar e tratar precocemente problemas laborais e de saúde mental, tornando os ambientes de trabalho mais saudáveis. “Um motorista, por exemplo, que não passou em exames por conta de diabetes emocional, agravada por traumas familiares, mostra que fatores emocionais podem impactar nos exames médicos e a aptidão para o trabalho”, alertou.
O Dr. Guilherme Marques, médico especializado em Saúde da Família e Dermatologia, abordou no 1º Fórum de Saúde Mental do ABCDMRR a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde para lidar com o crescente número de pessoas com transtornos mentais no Brasil. Ele destacou o desafio de preparar médicos, professores, delegados e outros profissionais que atuam como “bastiões do cuidado” para atender a uma população estimada em 18 milhões de brasileiros ansiosos ou em depressão.
Segundo Dr. Guilherme, é essencial que políticas públicas e a formação desses profissionais sejam pautadas em evidências. “A gente tem que pensar em políticas públicas capitais. Isso de novo tem que ser pautado em evidências. Para mim era novo um direito pautado em evidências que não fosse aquele vinculado por judicializações”, afirmou. Ele também ressaltou a importância da integração entre áreas: “A gente precisa pensar em como o direito consegue se aliar a médicos, e médicos conseguem se aliar a professores e a delegados, para que essas pessoas estejam preparadas para lidar com a saúde mental da população.”
O 1º Fórum de Saúde Mental do ABCDMRR foi considerado um marco importante para o debate sobre saúde mental no serviço público. Segundo a Dra. Renata Cruppi, delegada de Polícia de São Paulo, “este é o primeiro de muitos encontros que nos trazem a reflexão sobre a necessidade de um trabalho em conjunto, de diversas frentes, para que possamos cuidar melhor da saúde pública, especialmente dos funcionários públicos. São policiais, professores, psicólogos, médicos. Ninguém está livre de sofrer uma pressão emocional, de desenvolver um Burnout ou alguma patologia que fragilize a saúde mental”.
A delegada ressaltou ainda que o trabalho é central para a vida das pessoas e pode ser tanto fonte de realização quanto de sofrimento psíquico. “Por isso, promover ambientes saudáveis e investir em políticas públicas de prevenção e acolhimento são estratégias fundamentais para proteger a saúde mental dos profissionais e garantir um atendimento de qualidade à população”, concluiu Dra. Renata Cruppi.
Sônia Fares, fundadora da ACAESP, destacou em sua palestra o papel da arte como ferramenta de autoconhecimento e promoção da saúde mental. “A arte é uma ferramenta poderosa para elevar a autoestima e promover a descoberta de talentos e potenciais, muitas vezes reprimidos desde a infância. Eu tenho a certeza que todos são artistas em algum nível e que a prática artística pode revelar capacidades surpreendentes”, afirmou. Sônia também criticou a falta de incentivo a carreiras criativas nas escolas: “Eu sou crítica do fato de que escolas geralmente não preparam os jovens para carreiras criativas, focando apenas em vestibulares tradicionais. O desenho, em particular, pode abrir portas para profissões criativas, que estão em alta no mercado atual”. Ela ainda pontuou os benefícios da arte: “Os benefícios estão na organização dos pensamentos, promoção do autoconhecimento, melhora da autoestima, integração social, redução do estresse e ansiedade, estímulo à criatividade e ao bem-estar emocional”.
O presidente da ACAESP, Neivaldo Costa, encerrou o fórum com dados alarmantes: “Os números relacionados à saúde mental são cerca de 700 mil pessoas que morrem por suicídio anualmente. O Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, com projeção de 1,47 milhão de presos até 2025, apesar de ser uma das maiores economias globais, o que evidencia um grave problema social”. Costa criticou o desperdício de potencial humano, especialmente no esporte: “O Brasil ficou em 20º lugar na última Olimpíada, apesar de ter atletas para todas as modalidades e condições naturais favoráveis. Isso reflete uma crise de aproveitamento do potencial humano, especialmente no esporte, que poderia contribuir muito para a saúde mental da população”.
Costa ainda ressaltou a importância da cultura: “A cultura é fundamental para o desenvolvimento humano. Quem não tem acesso à cultura desconhece o patrimônio da humanidade, literatura, música e grandes obras, e perde a capacidade de contemplação e de resolver suas próprias contradições. Sem cultura, somos bárbaros, pois falta respeito ao outro e à diversidade”. Ele também apontou contradições na aplicação das políticas públicas: “Embora sejamos um povo criativo, as políticas públicas e leis de incentivo, como a Lei Rouanet, não são plenamente utilizadas. Essa lei, criada em 1991, foi pensada para fomentar a cultura e pode ser tema de estudos e pesquisas, mas ainda é subaproveitada”.
Finalizando, Costa destacou o papel da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo: “É preciso valorizar e investir mais em cultura, esporte e criatividade para transformar a sociedade e melhorar a saúde mental de todos”.
O 1º Fórum de Saúde Mental do ABCDMRR marcou um passo importante para o debate regional sobre saúde mental, inclusão e cultura, reunindo diferentes setores da sociedade em busca de soluções inovadoras e integradas para os desafios atuais.