Por Eunice Porto*
Os pais são super importantes na vida da filho simplesmente porque lhe deram a vida e apesar de tudo que possa ter acontecido pelo caminho, dar a vida, mesmo tendo dado para adoção já foi um ato de amor e ao aceitar e reconhecer a grandeza da vida, mesmo que o pai, a mãe ou ambos não tenham feito absolutamente mais nada, faz com que sejamos livres para fazer diferente.
Tomando deles o que foi possível seguimos e aceitando ou não somos impactados na construção dos diferentes EUS que nos habitam e fazem parte de nossa identidade como adultos, quando não aceitamos e desejamos mudar o passado, sentimos os efeitos negativos que reverberam através de ações e posicionamentos frente a vida, afinal de contas, não conseguimos mudar o passado.
Ao lembrar que ninguém dá o que não tem, compartilha o que não sabe ou ensina verdadeiramente o que não viveu, nos liberamos a ser e fazer diferente e essa perspectiva nos ensina uma grande lição: Ninguém pode ser cobrado pelo que não viveu, aprendeu ou sequer sabe que existe.
É muito comum ver filhos com a cobrança pelo que faltou efetivamente ou não, surgindo já na infância a partir daí as alianças entre os vários EUS gerando confusão e desordens que nos seguem pela vida adulta como por exemplo através do EU cobrador, julgador, permissivo, o brincalhão ou a boazinha entre tantos outros que se aliam a criança interior, fazendo com que o vazio pelo não recebeu, impacte negativamente e mesmo que os pais tenham feito e dado o melhor possível, estes Eus cobram e não abrem espaço para que o EU adulto se expresse.
A relação com a mãe é biológica é responsável pela nutrição, sucesso, abundância, prosperidade, trabalho e vida desde o ventre e se foi vivida num nível saudável, ela nos transmite o sentimento de reconhecimento, valorização, amor, respeito e pertencimento porém, quando a mãe também não sabe o que é isso, os EUS aliados a cobram o tempo todo pelo que faltou desde a infância, seguindo com essa cobrança inconsciente por toda vida adulta, se tornando por demais exigente e cobradora em muitas relações, submissa ou mendigando o que não recebeu em outras.
A cobrança neste caso é perda de tempo e energia, pois não adianta cobrar quem não tem noção de que pode ser diferente, se o que viveu foi o inverso das expectativas da criança interior, ao se sentir não vista, invalidada, cobrada, não reconhecida e amada como ser humano e para entender todo comportamento, é preciso lembrar que Ninguém sabe dar o que não recebeu; a vivência é a experiência que gera empatia e facilmente nos coloca no lugar do outro permitindo fazer do mesmo jeito; o já vivido faz com que saibamos exatamente o que e como o outro está se sentindo.
Fora da experiência tudo é teoria gerando cobrança e expectativa.
O pai representa a manutenção do trabalho, limite, forma, escola, estrutura, vida, as relações sociais e o dinheiro como impulsionador, sendo também o modelo de consciência e presença.
Quando os dois - pai e mãe, são modelos de tranquilidade, entrega, confiança, segurança e equilíbrio levamos esta experiência para a vida como um caminho dando continuidade ao que foi aprendido e independente do mundo dizer ao contrário, este será o modelo seguido desde a infância.
Quando se tem o modelo de pai ausente, distante, agressivo, viciado, traidor ou outra característica negativa, fugimos pois não é este o modelo desejado pelo EU adulto, ao mesmo tempo é o lugar conhecido e esse é a famosa ofurô de merda ou tá ruim, mas tá bom; é o lugar quentinho em que mesmo fedendo acostumamos com o desconforto e mesmo incomodados nos mantém num lugar conhecido e que já aprendemos a lidar.
Nestes momentos por mais que tenhamos a certeza de estar no comando da vida a partir do EU adulto, quem assume inconscientemente é a criança interior que busca parceiros ausentes e com as mesmas características que sentiu falta ou reclama em relação aos dois - mãe ou pai.
(Foto: Acervo Pessoal)
*Doutora Eunice Porto é psicóloga - contato (Instagram) - @euniceportoreal