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ESG: UMA NOVA PERSPECTIVA À ADVOCACIA
Economia
Publicado em 28/06/2023

A crescente demanda por responsabilidade social e sustentabilidade teve reflexos em diversas esferas da sociedade, e o mundo jurídico não é exceção. Não raro, vemos diversos casos midiáticos de escritórios de advocacia que se tornam alvos de ataques por ex-colaboradores que relatam um ambiente de trabalho inapropriado, o que não é bem visto mercado atual.

 

Os escritórios de advocacia, como importantes atores no sistema jurídico, têm a imperiosa necessidade de adotar práticas que estejam alinhadas com os princípios de ESG (Environmental, Social and Governance). No entanto, o que se vê no cenário atual é que há grande resistência no mercado, sendo crucial analisar criticamente tal postura do setor jurídico e enfatizar a importância de incorporar práticas de ESG na área.

 

Sendo isso verdade ou não, fato é que o ESG traz inúmeros benefícios para os negócios, inclusive no que tange à captação de clientes, que cada vez mais criam o habito de pesquisar acerca dos prestadores de serviços antes de contratar com estes.

 

O ESG é composto por três pilares a saber: o primeiro deles é a responsabilidade social, que engloba ações voltadas para a comunidade e o impacto social positivo. Os escritórios de advocacia têm a capacidade de promover mudanças significativas na sociedade por meio de programas de inclusão e diversidade, apoio a projetos comunitários e advocacia pública. Ignorar essa responsabilidade é deixar de aproveitar oportunidades de transformação social e reduzir o impacto positivo que podem gerar.

 

A sustentabilidade ambiental é outra dimensão crucial do ESG. Os escritórios de advocacia podem adotar práticas que minimizem seu impacto ambiental, como redução do consumo de energia, gestão adequada de resíduos e uso de tecnologias sustentáveis. Além de contribuir para a preservação do meio ambiente, essas ações podem gerar economia de recursos e redução de custos operacionais, tornando-se uma estratégia inteligente tanto do ponto de vista ético quanto financeiro.

 

Com relação a este pilar, ouso ressaltar a contínua resistência dos profissionais do direito com relação ao trabalho home office (possibilidade do colaborador trabalhar em sua própria casa). Ora, não se pode falar em ESG se a diretoria de um escritório insiste que seus colaboradores compareçam todos os dias ao escritório para realizar tarefas remotamente realizáveis. Essa prática ignora diversos estudos que comprovam os benefícios do home office, bem como afeta o pilar da sustentabilidade uma vez que muitas pessoas levam horas para se deslocar de suas residências até o local de trabalho.

 

Por últimos, o terceiro pilar é a governança corporativa, que envolve a adoção de políticas internas claras, transparência nas relações com os clientes e uma cultura organizacional ética. A advocacia precisa estabelecer uma estrutura sólida de governança, promovendo a ética profissional, a gestão de conflitos de interesse e a transparência em todas as suas atividades. Com uma governança eficiente, não apenas se fortalece a confiança e a credibilidade perante os clientes, mas também cria um ambiente interno saudável e motivador para os profissionais.

 

Este pilar está intrinsecamente ligado às práticas de compliance, as quais enfatizam a importância de evitar a adoção de comportamentos internos prejudiciais aos interesses comerciais dos escritórios. Para isso, é crucial estabelecer um código interno de conduta para manter um ambiente ético na empresa. Além de ser bem visto pela comunidade, a transparência nas atividades pode ter um impacto positivo na imagem da empresa no mercado, contribuindo para a atração de clientes ao transmitir uma visão ética da atividade desempenhada.

 

Atualmente, o que se vê no mercado é uma crescente tendência de conscientização dos clientes, sobretudo de grandes empresas, na adoção de posturas que favorecem questões de sustentabilidade e responsabilidade social, o que deixa claro que um escritório que está comprometido com esses valores pode se tornar o preferido para a contratação de serviços jurídicos. Além disso, no que tange a relações comerciais com parceiros e, talvez, até mesmo investidores, parece certo que práticas de ESG também são levadas em consideração nas negociações. Isto posto, os escritórios que se apressarem na adoção de tais práticas podem se posicionar estrategicamente no mercado.

 

ESG é uma tendência nova e, como toda novidade, é cheia de oportunidades. Há uma crescente demanda por serviços jurídicos relacionados a questões de sustentabilidade, responsabilidade social e governança, por isso faz sentido supor que a escassez de escritórios com tal expertise evidencia um mercado fértil, sendo possível atrair clientes e projetos específicos, o que permite remunerações maiores e diversificação do campo de atuação dos escritórios e empresas. Além disso, vale a antiga orientação: a participação de eventos ao ESG pode facilitar o networking e fortalecer parcerias com empresas ligadas à essa área de atuação.

 

Não é difícil imaginar que, num mercado “dominado” por autoridades que foram criadas em um momento onde sequer havia internet, as práticas de ESG sejam negligenciadas. Há uma evidente tendência na advocacia de priorizar o aspecto financeiro dos negócios em detrimento de quaisquer outros, e a falta de conscientização sobre os impactos das ações do corpo diretivo do escritório pode ser um obstáculo para a mudança. Vale dizer, que a implementação de práticas de ESG inevitavelmente gera a necessidade de investimentos financeiros, além de mudanças estruturais profundas e a adoção de uma mentalidade que, inevitavelmente, altera a cultura da empresa a longo prazo. Contudo, parece que a tendência veio para ficar, motivo pelo qual as empresas que tem adotado tais práticas vem sendo valorizadas no mercado nacional e internacional.

 

Por fim, nota-se que a incorporação de práticas de ESG não apenas está alinhada com os princípios éticos – inerentes às profissões da área jurídica –, mas também beneficia as empresas e escritórios que as adotam, alavancando-os no quesito competitividade, gerando oportunidades de negócios e fortalecendo sua imagem perante o mercado, o que promove uma verdadeira transformação interna dos negócios e contribui para uma sociedade mais equilibrada e consciente.

 

Lázaro Herculles Henrique Teixeira é Advogado Criminalista.

Gestor da área Penal do Vigna Advogados Associados.

Pós-graduando em Ciências Criminais pela USP/FDRP

 

 

 

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