‘O Pai’, clássico teatral de Strindberg, tem apresentação única em São Caetano do Sul
23/06/2023 14:13 em Novidades

Texto de 1887, aclamado como obra-prima do teatro moderno, tem direção de Regina Galdino e explora as relações de gênero e poder. Espetáculo será apresentado no dia 25 de junho, no Teatro Municipal Santos Dumont, com entrada gratuita

 

Um dos clássicos da dramaturgia mundial, O Pai, do autor sueco August Strindberg, volta aos palcos para uma temporada de circulação pelo interior paulista, com apresentação no Teatro Municipal Santos Dumont, em São Caetano do Sul, no dia 25 de junho (domingo), às 18h, com entrada gratuita - a bilheteria abre uma hora antes do espetáculo para retirada do ingresso.

Escrita em 1887, O Pai permanece atual ao abordar questões relacionadas a gênero e poder, temas cada vez mais presentes nos debates contemporâneos. Na peça, pai e mãe protagonizam uma briga feroz pelo direito de educar a filha, a representação da geração futura. O alicerce social, fincado no exército, na ciência e na religião, é desestabilizado pela mãe, que lança mão de estratégias inescrupulosas para enfrentar o domínio paterno. “É uma história sobre a luta pelo poder e como eliminar o opositor usando mentiras”, afirma a diretora da montagem, Regina Galdino.

Após a aclamada estreia em abril do ano passado, no Teatro João Caetano, na capital, esta versão de O Pai chegou a outros seis municípios paulistas graças ao apoio do ProAC – Programa de Ação Cultural, prêmio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. Antes de São Caetano, que encerra a turnê, o espetáculo também foi apresentado em Campinas, São José dos Campos, Sorocaba, Santos, Ribeirão Preto e Lençóis Paulista. “Toda vez que viajamos entramos em contato com outras visões, e isso é muito importante. Outros públicos nos trazem coisas novas. Temos esta sede de trocar experiências”, comenta Regina.

O elenco de O Pai traz Marcos Damigo (Capitão Adolf), Tatiana Montagnolli (Laura), Gerson Steves (Doutor Ostermark), Daniel Costa (Pastor Jonas), Beatriz Negri (Bertha), Sérgio Passareli (Soldado Klaus), e a participação especial de Gabriela Rabelo (Margret). Para Marcos Damigo, neste momento, a classe artística está sendo convocada mais que nunca a se posicionar através de suas obras. “Assim como na obra de Strindberg, enfrentamos uma guerra implacável entre interesses e necessidades, atravessados pelas estruturas sociais. Ao trabalhar com este texto, descobri que há aspectos além das pretensões do autor, um iceberg imenso e submerso. Decifrar esses personagens é encarar espelhos desconfortáveis”, analisa o ator.

Sobre a obra

O Pai é conhecido como um dos textos mais contundentes do autor sueco, apresentando personagens complexos, ambíguos e profundamente humanos. Eles lutam desesperadamente para entender uma nova sociedade que estava surgindo, com novos papéis sociais sendo delineados para homens e mulheres.

A montagem é resultado de uma busca pessoal da atriz e idealizadora do projeto, Tatiana Montagnolli. “Em 2017, eu estava à procura de uma peça teatral que me impactasse profundamente e, após muitas buscas, encontrei a obra completa de August Strindberg. Foi a peça menos conhecida dele que chamou a minha atenção e, ao terminar a leitura de O Pai, senti como se tivesse levado um soco no estômago. Desde então, esse projeto se tornou meu sonho, desejo e obsessão, de trazer essa obra para os palcos e mostrar como as mulheres, mesmo em uma sociedade majoritariamente masculina, começavam a buscar seus próprios caminhos. Uma obra escrita há mais de 130 anos, mas que, em muitos aspectos, segue mais atual do que nunca”, relata a atriz.

Encontrado o texto, começava o desafio de sua tradução e adaptação para o nosso tempo. Tarefa que coube ao professor, dramaturgo e ator Gerson Steves. "Foi um processo que, ele mesmo, passou por adaptações. Iniciado em 2017, com um trabalho de atualização linguística, chegamos em 2019 com as primeiras leituras junto ao elenco, ainda com a ativa colaboração do ator Rubens Caribé, que nos deixou tempos depois, sem ter conseguido concluir o seu Capitão Adolf", relembra Steves. Outro revés viria para trazer novos desafios: a pandemia. "Dois anos depois, quando voltamos a lidar com o texto, já não éramos as mesmas pessoas. O Brasil também não. Aquela obra do século XIX ganhou novos contornos e relevância ainda maior ao lidar com questões como masculinidade tóxica, construção de machismo estrutural, distorção da fé e da ciência, trazendo à pauta assuntos tão necessários para o entendimento das instituições e o decorrente conservadorismo contemporâneo", completa Steves.

Sobre o autor

Johan August Strindberg (1849-1912), é considerado um dos maiores escritores escandinavos de todos os tempos. Com mais de 60 peças em seu repertório, ele é famoso por obras como “Senhorita Júlia”, “A Mais Forte” e “A Dança da Morte”. O Pai foi concebido como uma resposta à peça “Casa de Bonecas”, de seu contemporâneo Henrik Ibsen, transformando o enredo em uma guerra de gêneros, segundo alguns críticos. Strindberg é conhecido por sua habilidade em explorar temas polêmicos e perturbadores em diferentes gêneros e estéticas teatrais, em uma época de fortes confrontos entre ciência e religião.

Acervo on-line

Esta montagem de O Pai conta ainda com um site (www. opaiteatrostrindberg.com.br) que, além de fornecer informações sobre a peça, serve como plataforma de pesquisa dedicada ao teatro de Strindberg, enriquecendo o legado do dramaturgo no país, disponibilizando um precioso material de pesquisa, principalmente para os estudantes de teatro e interessados em artes em geral, além de conteúdos atualizados sobre outras montagens do autor no Brasil, contribuindo para ampliar o conhecimento e apreciação de sua obra.

SERVIÇO

 

O Pai, de August Strindberg

Temporada 2023 - Circulação Interior de São Paulo

 

São Caetano do Sul - 25 de junho, 18h

Teatro Municipal Santos Dumont

Avenida Goiás, 1.111 - Centro

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