Há 95 anos, em 6 de maio de 1928, foi inaugurada a Estrada Rio-São Paulo pelo então presidente Washington Luiz, na qual era possível fazer o trajeto em 14 horas, com automóveis que desenvolviam entre 30 e 60 quilômetros horários. Hoje, pelas modernas rodovias Ayrton Senna/Carvalho Pinto e Presidente Dutra, um caminhão, considerando as velocidades permitidas para veículos pesados e eventuais paradas, gasta oito horas, em média, entre as regiões centrais das duas capitais.
O tempo da viagem, porém, está condicionado a variáveis (não tão variáveis assim...): no lado paulista, os congestionamentos na Marginal do Tietê, nos trechos que cortam a área industrial de Guarulhos, o Aeroporto Internacional “André Franco Montoro”, nesse município, e na passagem por São José dos Campos, outro importante polo manufatureiro; no lado fluminense, a morosidade na Serra das Araras e os engarrafamentos na Avenida Brasil, na entrada da Cidade Maravilhosa.
Entretanto, em feriados, o percurso pode demorar até 10 horas ou mais, e vejam que estamos falando de algumas das rodovias mais modernas do País e da ligação entre nossas duas maiores cidades. A situação é absolutamente precária se avaliarmos as condições de grande parte das estradas federais e estaduais. Como temos insuficientes redes ferroviárias e hidroviárias, o transporte de cargas, o turismo e a movimentação de passageiros dependem muito de caminhões, automóveis e ônibus, cujos custos só perdem para o aéreo.
Isso onera as indústrias, as empresas de distribuição e o varejo, em todas as cadeias de valor, com impacto direto na competitividade dos setores produtivos, nos preços dos produtos exportados e na ponta do consumo. Estudo da Fundação Dom Cabral constatou que, no Brasil, a logística consome cerca de 12% das receitas das empresas, dos quais 63% correspondem apenas ao transporte. Não é sem razão que, no Índice Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial, nosso país tenha se classificado em 69º e 116º lugares, dentre 141 nações, nos quesitos “conectividade” e “qualidade” das rodovias, respectivamente.
O mais preocupante é que, apesar desse gargalo, que exigiria a ampliação e modernização de todos os modais para melhorar, reduzir custos e torná-los eficazes, estudo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) mostra: o aporte de recursos públicos e privados nos transportes é inferior à metade dos R$ 284,4 bilhões anuais, em uma década, necessários para atender à prioritária demanda.
Diante do grande desafio de contarmos com moderna e adequada rede de logística e mobilidade, cabe atualizar a frase “governar é abrir estradas”, proferida por Washington Luís ao inaugurar a Rio-Petrópolis, também em 1928. Nos dias atuais, respondendo à pergunta do título deste artigo, ele diria, com certeza, que “governar, num país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados, é edificar e manter eficientes redes de rodovias, ferrovias, portos, hidrovias e aeroportos”. É disso que precisamos para reduzir um dos mais onerosos itens do “Custo Brasil”, aumentando a competitividade da economia nacional.
*Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).